Cynthia Falabella e Jaqueline Dalabona estão no elenco da novela 'Corações Feridos'
Ninguém pode acusar o SBT de sofisticação. Corações Feridos, novela que a emissora passou a exibir na última segunda-feira (16), é prova disso. A novela de Iris Abravanel - a partir do original mexicano "La Mentira", de Caridad Bravo Adams - é um primor de objetividade dramática. Quem é bom, é bom. Quem é mau, é melhor ainda. Caso da inescrupulosa Aline, de Cynthia Falabella. A atriz constrói uma personagem cuja dissimulação não enganaria uma criança de oito anos na vida real, mas é um primor na telenovela. Com ótima expressão corporal e um olhar deliciosa e exageradamente falso, a personagem já nasceu antológica.
Pena que esteja tão mal-acompanhada por Flávio, papel de Ronaldo Oliva. O personagem é um canalha perfeito, pleno de adjetivos: vulgar, ambicioso, brutal e asqueroso. Mas essa personalidade, de temperamento tão rico, se concretiza sem vigor na interpretação de Oliva. Mesmo nas cenas em que bolina a vilã, o personagem não tem a menor "pegância". Nada. Contracena sem interação. Ainda pode ser um Iago, mas até agora é uma ausência.
Como não podia deixar de ser em um folhetim feito de contrastes fortes, os heróis da história são bons, belos e bobocas. Em um gesto de delicadeza com o público, o Rodrigo de Paulo Zulu se mata logo no primeiro capítulo. Os galãs sobreviventes mantêm idêntico tom monocórdio, caso de Eduardo, de Flávio Tolezani, e Vitor, de Victor Pecoraro. Os coadjuvantes Olavo e Hélio, respectivamente de Paulo Coronato e Blota Júnior, mobilizam suas cenas com elegância. Destaque para a atriz Jacqueline Dalabona como Vera, mãe do mocinho Vitor, que defende seu papel de mulher rica com presença e propriedade.
Cenários e figurinos, que tantas vezes no SBT pareciam roubados de um brechó decadente, estão bem adequados aos personagens contemporâneos. Del Rangel oferece bem mais do que os "big closes" que a Globo insiste em repetir. O diretor trabalha com planos abertos que permitiriam, inclusive, uma movimentação cênica mais intensa. Ele ainda costurou as imagens da estreia com belos "split screens". Acima de tudo, sua câmara dialoga com atenção e suavidade com os intérpretes. É uma companheira discreta e precisa dos atores, o que revela o quanto Del Rangel deve à sua formação teatral. Que ninguém duvide, "Corações Feridos" é um novelão. E o superlativo não é elogioso. Mas tem sutilezas que merecem ser vistas. E, acima de tudo, descomplica a narrativa. É um grande mérito. Feita para corações singelos.
Corações Feridos vai ao ar de segunda a sábado, às 20h30.
Fonte: Terra
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